Um avião da Voepass Linhas Aéreas com 62 pessoas caiu na tarde de sexta-feira (9/8) em uma área residencial da cidade de Vinhedo, a cerca de 80 km de São Paulo.
Inicialmente, a Voepass havia confirmado a morte de 61 pessoas, sendo 57 passageiros e quatro tripulantes. Mas, na manhã deste sábado (10/8), a empresa confirmou mais um passageiro entre as vítimas.
Segundo a companhia, o nome da 62ª vítima não estava na lista de passageiros embarcados, divulgada na sexta, “por uma questão técnica identificada pela companhia referente às validações de check-in, validação do boarding [embarque] e contagem de passageiros embarcados”.
O voo 2283 saiu de Cascavel (PR) às 11h46 com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP). O acidente ocorreu por volta das 13h20 e não deixou sobreviventes.
A tragédia se tornou o mais letal acidente aéreo em solo brasileiro desde 2007, quando um avião da TAM matou 199 pessoas ao se chocar com um prédio ao tentar pousar no Aeroportos de Congonhas, em São Paulo
No entanto, o risco de morrer em um acidente aéreo vem caindo de forma constante ao longo dos anos, desde o início da aviação comercial – com cada década sendo mais segura do que a anterior.
O risco global de morrer em um acidente de avião em um voo comercial entre 2018 e 2022 foi de 1 em 13,7 milhões, segundo um estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) publicado em 2024. Já no Brasil, o risco é ainda menor – 1 em 80 milhões (leia mais abaixo).
A taxa global de 1 em 13,7 milhões é uma melhora significativa em relação à taxa de 1 em 7,9 milhões entre 2008 e 2013; e extremamente mais baixa do que a chance de morte entre 1968 e 1977, que era de 1 em 350 mil.
Entre as vítimas, estavam Arianne Albuquerque Estevan Risso e Mariana Comiran Belim, ambas residentes de oncologia clínica do Hospital do Câncer Uopeccan, em Cascavel.
“[Eram] médicas humanas, que atendiam todos os pacientes com muita dedicação, carinho e respeito”, diz a nota divulgada pelo hospital. “Era muito nítido o amor que ambas tinham pela profissão”, seguiram.
Não eram as únicas médicas a bordo. Outros profissionais também se dirigiam a São Paulo para participar de um congresso, lembrou o Conselho Federal de Medicina (CFM) também em nota.
O CFM se dirige aos parentes e amigos dos médicos que se encontravam a bordo e estavam a caminho de um evento na cidade de São Paulo (SP), em busca de conhecimento e atualização, prática comum e necessária entre os membros da categoria”, afirma nota do conselho.
Entre os médicos que perderam a vida a bordo, estavam também o professor José Roberto Leonel Ferreira, radiologista recém-aposentado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), e a pediatra Sarah Sella Langer, que atuava no hospital universitário.
A Unioeste lamentou em nota essas perdas e de mais seis pessoas ligadas à instituição, entre docentes e ex-alunos. Um deles era o árbitro de judô e professor do departamento de Educação Física, Edilson Hobold, que atuava em competições nacionais e internacionais
“Tinha 52 anos e dedicou grande parte da sua vida ao judô, destacando-se como um dos árbitros mais proeminentes do país. Sempre gentil e cortês, tinha o respeito e a admiração de todos que puderam conviver com ele”, destacou também a Confederação Brasileira de Judô, em nota de solidariedade aos familiares e amigos.
O Comitê Olímpico do Brasil também divulgou nota de pesar sobre a morte.
Deonir Secco, professor do curso de engenharia agrícola, e Raquel Ribeiro Moreira, professora credenciada do programa de pós-graduação em Letras, ambos do campus de Cascavel da Unioeste, também estavam no avião.
nicialmente, a Voepass havia confirmado a presença de 57 passageiros no voo, mas informou neste sábado (10/8) que Constantino Thé Maia também estava a bordo.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, lamentou a morte do potiguar nas redes sociais.
“Acabo de receber com tristeza a confirmação que o potiguar Constantino Thé Maia, irmão do policial militar Thé Maia, também está entre as vítimas do acidente aéreo em Vinhedo-SP”, escreveu.
“Lamento profundamente essa perda e rogo a Deus que dê o conforto a todos os familiares neste momento de luto e dor.”
Amigo relembra frequentadores da paróquia
Também nesta sexta-feira, Carlos Renê relembrou em seu Instagram os amigos Maria Auxiliadora Vaz de Arruda, 74 anos, conhecida como Dora, e seu marido José Cloves Arruda, de 76 anos, também vítimas da tragédia, que moravam em Guarantinguetá, interior de São Paulo.
Renê, que coordena um movimento em devoção a São Padre Pio, conviveu com os dois em atividades religiosas. “Eram companheiros inseparáveis, unidos pela fé, pelo amor e por uma vida dedicada ao próximo”, escreveu.
“Dora, que também dedicou parte de sua vida à Apae de Guaratinguetá, e José Cloves, fotógrafo aposentado, deixaram marcas profundas em todos que tiveram o privilégio de conhecê-los”, continuou.
Já a Universidade Federal do Paraná (UFPR) lamentou a morte da professora Silvia Cristina Osaki, também a bordo. Ela lecionava nos cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas da instituição.
“Com um ritmo de vida e trabalho intenso, incluindo pedaladas antes do amanhecer a jogos de vôlei noturnos, ela construiu vínculos profissionais e laços de amizade dentro e fora da universidade, deixando um legado não só por suas realizações, mas também por seu espírito cômico, presença sempre marcante, alegria contagiante, autenticidade e irreverência”, escreveu um diretor da universidade, Wilson de Aguiar Beninca.
Ao menos uma criança entre as vítimas
Ao menos uma criança teve a vida interrompida pelo acidente. Segundo o portal de notícias Catve.com, de Cascavel, uma jornalista da empresa, Adriana Ibba, perdeu a filha de apenas três anos, Liz Ibba dos Santos. Ela viajava com o pai, Rafael Fernando dos Santos, que também faleceu.
O acidente matou ainda alguns casais. Entre eles estavam Antônio Deoclides Zini Junior e Kharine Gavlik Pessoa Zini.
Ela era fisioterapeuta e ele, ex-goleiro do Cascavel Futsal e atual diretor de frota e manutenção na Transportadora Pra Frente Brasil, fundada por seu pai.
Outro casal que estava no voo era o servidor Nélvio José Hubner, subprocurador-geral do município de Toledo, e a engenheira química Gracinda Marina da Silva, professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e pré-candidata a vereadora pelo MDB.
“Casados há 25 anos, o casal deixa três filhos e incontáveis amigos e colegas que os admiravam tanto pessoalmente como profissionalmente”, diz um post de pesar na página da pré-candidatura de Gracinda no Instagram.
Já o vereador de Cascavel, Jaime Vasatta, perdeu a filha no acidente. Laiana Vasatta era advogada, especialista em questões jurídicas relacionadas à companhias aéreas.
DJ e fisioculturista
Mauro Sguarizi estava no avião que caiu na tarde desta sexta-feira (09) na cidade de Vinhedo, em São Paulo.
A família de Mauro Sguarizi, conhecido como Juninho amigos e familiares, confirmou via redes sociais que ele estava na aeronave.
Ele trabalhava como DJ e era da cidade de Guaíba, no Paraná. Nas redes sociais, postava com frequência fotos de seus shows.
A fisiculturista Daniela Schulz também está entre as vítimas. Nas redes sociais, a mulher compartilhava a rotina de treinos e de dieta com mais de 16 mil seguidores.
Antes de embarcar, ela postou vídeos em suas redes sociais no aeroporto. “Que Deus abençoe nosso dia e que Deus abençoe nosso final de semana”, disse em uma das postagens,
Daniela estava acompanhada do seu namorado, o engenheiro agrônomo, Hiales Carpine Fodra, que também está na lista de passageiros divulgada pela companhia Voepass.
O casal viajaria para os Estados Unidos. Os dois moravam em Ubiratã, no centro-oeste do Paraná.
A tripulação
A tripulação da aeronave era formada por quatro funcionários da Voepass.
Debora Soper Avila, de 28 anos, era comissária de bordo na Voepass há um ano e meio, segundo suas redes sociais. Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a profissional se descrevia como uma “apaixonada pela aviação”.
Formada em gestão de recursos humanos, Debora já havia trabalhado em outra companhia aérea entre 2018 e 2019.
A outra comissária de bordo que trabalhava no voo era Rubia Silva de Lima, de 41 anos.
Durante entrevista coletiva na noite desta sexta-feira em Ribeirão Preto, o CEO da Voepass, Eduardo Busch, disse que Rubia trabalhava na companhia desde 2010 e teve uma ascensão na empresa onde sempre sonhou trabalhar.
“Ela foi agente de aeroporto por alguns anos aqui em Ribeirão. Depois, ela foi promovida, era um sonho ser comissária e estava voando há alguns anos com a gente como comissária também”, disse.
Uma das escolas da formação profissional de Rubia, a Sky Angels Escola de Aviação, publicou uma nota de pesar nas redes sociais. No texto, a instituição classifica a comissária como uma “estudante brilhante”.
Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, era o copiloto. Ele estava na empresa há quase cinco anos e tinha mais de 5 mil horas de voo, segundo a Voepass.
O piloto era Danilo Santos Romano, de 35 anos. Com dez anos de experiência, estava na Voepass desde novembro de 2022. Ele começou como copiloto de ATR72, passando a comandante em julho de 2023, segundo informações de seu perfil em uma rede social.
Ele já havia atuado em outras companhias, entre elas a colombiana Avianca e a Air Astana, do Cazaquistão